domingo, 18 de fevereiro de 2007

palavras soltas ou talvez não...

(não autobiográfico)
...Andei perdido durante uns minutos, no mundo longinquo da imaginacão. Nos últimos tempos, andava a fazer aquilo de uma forma compulsiva. No relato de alguém transportava-me, de imediato, para aquele lugar, onde os olhos se prendem num ponto, sem na realidade percepcionarem esse ponto. Qualquer coisa servia de motivo de alienacão. Enfraquecera. Comecara a amar. Alienava-me aos poucos. O que me estava a acontecer? Indagava-me se estaria a inclinar-me para o vale dos loucos. Estava preso a realidade, mas aquele distanciamento momentaneo para pensar, tornara-se quase essencial para responder a uma pergunta, por mais simples que fosse...
...É engraçado pensar que todas as pessoas sonham em encontrar o amor da sua vida e um bom grupo de amigos. Eu fugia desse sonho social. Tinha medo de amar. E agora reparem neste paradoxo - Ter medo de amar é nao ter forca para amar, mas amar em si, é renunciar a forca. É um bonito antagonismo, sem duvida que sim. Mas se pensarmos bem tudo na vida e assim-uma faca de dois gumes, um pau de dois bicos um ser de duas caras. Mais uma vez tudo depende do ponto de vista. Mas será normal aceitar duas ideias aparentemente diferentes? Aceitar duas ideias diferentes e ser tolerante? Acreditar em duas ideias diferentes, sinal de fraqueza ou ascenão directa a um plano superior do entendimento humano? Certo apenas a convicção que duvidar é começar a subir a perigosa escadaria que existe entre planos.
...Num dos cantos da sala, imóvel, pensava sobre todos aqueles que ali estavam. Estariam já todos? De acordo com Mara nunca se sabia ao certo quem apareceria. Pensava nos seus corpos nús, rocando-se como serpentes na altura do acasalamento. Pensava nos seus sexos, na cor dos seus pelos púbicos, nos seios das mulheres, nos suspiros sexuais, nas expressões de prazer...
...O gelo das bebidas servia agora de refresco entre os seios, ou nos genitais. Tinha sido prontamente arrancado as bebidas para acalmar um fogo mais forte que o próprio calor que se fazia sentir naquela sala...
...As bebidas começavam a esgotar-se nos copos e os corpos pareciam não querer apaziguar o calor que lhes corria nas veias. Em vez de o apaziguar, cada corpo, um por um, deixava-se cair nú sobre o chão alcatifado...
...Agora tambem eu me desembaraçava de preconceitos. Bebia cada gota de suor e deliciava-me. Tinha-me deixado abarcar por tudo e todos. Beijava bocas sem género. Masturbava o meu corpo nos corpos dos outros. Serpenteava como doido num manjar desejado por muitos. Deixara de ter um sexo. Deixara de pertencer a um género. Acima de tudo naquele instante eu era Eros. Era a promiscuidade...
NOTA: As fotografias aqui presentes fazem parte do excelente trabalho de SPENCER TUNICK